Me ajeito na cadeira como se fosse ficar na mesma posição
por horas em extrema concentração, arrumo a postura (preocupação de velho, eu
sei), pisco algumas vezes consecutivas (talvez a culpa seja do horário), pego o fone, o
lápis e uma folha em branco (por que não abro o Word? Porque sou chato).
O branco da folha parece mais branco, o brilho é tanto que
amplia essa imensidão de vazio, de falta de tudo. Mas mesmo assim a folha me recebe sorrindo. A ponta do lápis já me olha
meio tristonha ( ela sabe que acabo com ela ainda hoje), mas também sabe que só
tem a ganhar... vai mudar de plano, vai mudar todo o seu significado: de objeto
para registro. O papel até que gosta, faz cócegas...
Mas antes da mão pegar o lápis e fazer a ponta virar
registro no papel, é preciso pensar. Em quê?
Num tema, claro. E enquanto a cabeça pensa, o lápis já rabisca o papel,
sem necessariamente saber o que está fazendo. Ele flui... A mão apenas segue o
lápis (ele sabe o que fazer) e o papel, de barriga pra cima, sossegado...
Eu esqueço as palavras, a cabeça e deixo o lápis caminhando
só. Não que eu não confie nele, mas as vezes, dou uma boa olhada nos seus
passos só pra ver onde ele quer chegar.
A cabeça bem que tenta, mas não consegue entender por que
vieram desenhos, se ela queria palavras. -Esse era o objetivo racional! – ela
gritou. A ponta, o lápis, o papel e até a cadeira caíram na risada.
É... a cabeça precisa dormir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário